Galeria Pátio Brasil | |
Brasília, 1999 |
Via(s) Brasília
Dentre as comemorações do aniversário de Brasília, esta mostra, que reúne pinturas de Terezinha Losada, fotografias do Arquivo Público do Distrito Federal e o livro “Brasília: a construção da Nacionalidade, um meio para muitos fins” de Vânia Moreira, oferece uma oportunidade ímpar de leitura sobre a sua configuração.
Este cruzamento de idéias, formas e cores captado por olhares que recortam, perscrutam e indagam, demonstra maneiras particulares de se elaborar a questão de Brasília e sua história.
Temos aqui várias vias que apontam, indicam, representam, dialogam e comparam-se. Dispomos aqui de uma história de várias vias, plural; histórias, em sua variedade, multiplicidade e diferença.
São histórias que enviam, em duas vias, para lá e para cá, seus eixos, tesouras e sinais.
As pinturas que Terezinha Losada expõe, resultam de um processo de criação específico. Do desejo de re-aproximação da cidade, fotografa-a aleatoriamente, às cegas, do interior do carro (vermelho) em movimento, capturando o espaço urbano. Posteriormente, é o trabalho no ateliê, onde as fotos incitam o exercício em croquis, nos quais estabelece o traçado para as pinturas sobre papelão. Sobre este suporte, experimenta técnicas, materiais e cores que vão conferir sentido a sua reflexão.
Esses três tempos demandam da artista esforço experimental e liberdade expressiva que a prática da pintura contemporânea requer. Jogando com o que diferencia a pintura da produção de imagens, recorre a uma geometria irregular e a planaridade para instituir uma linguagem que se compõe nas relações de funcionamento.
Do gesto inicial – clicar percursos -, ao gesto pictórico, Terezinha instaura sua pintura por meio de um referencial de vocabulários e de estruturas tomadas da história e da materialidade, não para demonstrar conceitos, mas para objetivar o sentido.
O recurso utilizado em sua pintura é o da desaceleração do tempo, ou seja, o de poder diminuir-lhe a velocidade e expandi-lo em série.
Para isso, trabalha a matéria a própria memória do tempo na pintura -, através de camadas sobre a superfície, que preservam a memória dos traços e dos gestos de sua execução, até o último toque.
Entre o suporte e a superfície surgem a monocromia, os traços de pintura sobre a monocromia e a camada que identifica esses traços. A tensão é mantida entre esses elementos, sem que se coloque em dúvida a integridade da pintura. Cada um deles tem sua lógica de realização e sua temporalidade própria: a pintura se configura como o instante em que a lógica e a temporalidade se superpõem. A monocromia permite a exploração do jogo do preto e do branco, do preto sobre o branco, do branco sobre o preto-asfalto, muitas vezes atravessados pela intensidade do vermelho ou do amarelo e pela emergência do próprio suporte.
Na presente série em exposição, Terezinha Losada desvela seu processo e seu percurso, o tempo veloz e o espaço plano, no movimento de sua aproximação com a cidade e com a sua história.
(Grace Maria Machado de Freitas, 19/04/1999)