Galeria Macunaíma (Funarte)
Rio de Janeiro, 1981

…Terezinha exemplifica essa fração de classe, cuja a produção artística é disparatada porque os sobressaltos são muitos. Entre os novos da cidade, excluindo-se os componentes do grupo Ex-cultura, não conheço ninguém menos “formado” (posto em formato) do que ela. Poderia fazer aqui (de resto já a fiz, guardando para outra ocasião) uma exegese de todos os valores plásticos da sua pintura, começando pelas dimensões da tela e a análise da estrutura visual, que inclui a dissecação do desenho, da cor, do espaço, dos padrões e manchas, do tratamento da superfície, da relação entre os objetos, e terminando pelo material, pela técnica e pelo método. Mais razoável me parece concluir com uma alusão a sua temática que reitera seu lugar de intérprete de sua geração rebelada. Na cadeira (um dos temas mais tratados na arte do século XX), no circo, no jogo, na mulher, no saltimbanco reencontramos os símbolos do poder em suas mil faces opressoras. Mas também encontramos os sinais da possível liberação. Sem as distorções do feminismo, Terezinha exalta, à vezes com verve humorística, a legitimidade do prazer, da alegria, da dignidade da pessoa. Contra a ditadura e a estupidez da escola; contra a ditadura equivocada do concretismo, contra a repressão dos tons sussurrantes e o recato imposto dos sacrifícios inúteis da cor ou da linha – os apreciados despojamentos –, contra as sutilezas elitizantes. Assim é a arte de Terezinha. Às cores do arco-íris ela acrescentou o dourado para compor sem barreiras um canto sonoro de afirmação.

(João Evangelista de A. Filho)