Galeria Cultura Inglesa | |
Brasília, 1984 |
… As décadas anteriores foram marcadas pelo vanguardismo e por um intenso debate conceitual/ideológico em torno da arte e seu lugar no circuito. Uma das tendências mais fortes desta década de 80 parece ser a irrupção da anarquia, a ruptura com modelos dominantes, a transferência de todos os impasses para dentro da própria estrutura da linguagem.(…) Terezinha está processando a sua pintura através de um fascínio do movimento: o movimento encenado pelo toque de cor. O elemento figurativo não aparece como pretexto e as pinturas se recusam a uma mera descrição narrativa, provocam o narrador a uma nova formulação dos sentidos.
(Severino Francisco, Correio Braziliense, 03/09/1984)
A Pintura de Terezinha Losada agrega-se às tendências destruidoras de formas para chegar a sua violação. Rompem-se as aparências: a pintora destrói as linhas do grafismo inicial de sua arte, multiplica os planos, deforma os volumes; altera, decompõe e reagrupa. Não se trata propriamente de um método, mas de uma visão sistematizada e voluntariamente assistemática de construir sua trama. Como que a representar o momento construtivo de sujeito-pintor provoca uma saída (uma experiência) pela eclosão de coisas, de sensações, de signos que apenas escapam ao tempo. Desse modo seus objetos e seres se tornam visíveis pela pulsação das cores: destruindo o ordenamento de uma mundo exterior, fracionando o espaço e tentando recortar o tempo, eles fazem com que, numa fração, a significação se substitua à figuração. Se há finalidade neste artifício de captação e, por que não, de reordenação do espaço e do tempo é a de evidenciar aquilo que o fundamenta numa realidade, a saber a emergência de uma ou de múltiplas imagens que capturem do real um significante que privilegie a representação.
As cores cruas que se sobrepõem como se fossem formas explodem dinamicamente, através de contrastes simultâneos, produzindo uma ruidosa eloqüência de circuitos energéticos. É por aí que a percepção experimenta, de modo particular, a realidade do objeto capturado em sua presença pelas pinceladas largas e secas. As especulações são, porém abstratas, e comportam a dinâmica de um espaço que, embora tri-dimensional, aponta para uma quarta dimensão esboçadas nos planos diagonais e nos planos curvos.
Encontro de seres e objetos trazido de sua própria trajetória como artista, a pintura de Terezinha Losada não se submete a um olhar apressado. Inventário provisório de formas coloridas, ora cercadas, ora atravessada de negros buracos, evocam a emergência de um mundo possível.
(Grace Maria Machado de Freitas, catálogo da exposição “Itinerário 1”, Brasília, abril de 1984)