Galeria C (Centro de Criatividade) da Fundação Cultural
Brasília, 1979

Depois da década de sessenta ficou muito difícil o reconhecimento para os novos artistas. Sua produção é considerada sempre e quase invariavelmente uma divagação inconsequente dos movimentos culturais da época – fervilhante e transitória. (…) No Brasil, o sacrifício dessa confusão perdura e qualquer cabeludo é inconsequente, na concepção dos donos da arte. Em Brasília, então, a repressão surda, presente até no ar que se respira, não só impede o incentivo como também a revelação de novos talentos. (…) 

E é justamente nesta parte da história que entra Terezinha Moreira. Introspectiva, ela não reúne material suficiente para convencer os mandatários do rei. (…) Antes disso, as poucas oportunidades que se dá aos artistas novos: apenas uma exposição individual  realizada sob o patrocínio do Touring Club (…).  

De lá pra cá, um salto. Um salto alto. Da preocupação com a figura humana retratada sempre com fortes contornos geométricos preenchidos por cores obscuras em pastel, do equilíbrio matemático racional, para uma volta instintiva ao existir, ao ser.

De repente, uma suave explosão de sentimentos e de experiências do viver espargidas com a segurança e a determinação de quem já está em outra. De quem já descobriu as maneiras de arrancar e oferecer as encucações antológicas genéricas de uma forma absolutamente peculiar. Ilustrar a reflexão da maneira mais elementar sem desprezar o amadurecimento técnico. É o reconhecimento, a identificação do artista com o público, justamente quando se entrega e mergulha de cabeça no trabalho, sem preconceitos, deixando de lado as filuras e filigranas ideológicas. Uma beleza dada, sem truques, em cada trabalho. Uma entrega absolutamente límpida. 

(…) E justamente nessa entrega se consome em experiências que tintas e pincéis dão ao corpo. Assim foi com sua ligação com o dançar. Com presença impressionante se mostrou inteira em Trabalho nº 1, espetáculo de danças dirigido por Hugo Rodas* em 1976. Daí, talvez parte da grande consciência do movimento e da postura de suas figuras humanas. 

(Ary Pararraios, Correio Braziliense, 03/03/1979)