Galeria B da Fundação Cultural
Brasília, 1982

Pintar e desenhar com frenesi. Foi assim que Terezinha pode escolher o caminho que trilha hoje. Assim se cristalizaram formas e concepções que ela – com sabedoria apesar da pouca idade –, recicla, transforma e oferece hoje.

Dedicada atualmente mais à pintura do que ao desenho, aí talvez resida a sua melhor qualidade. A de transpor limiares com tranquilidade. Forma, cores e conteúdo não procuram definição em seu próprio código mas se somam a cada resultado. O que é, senão raro, ao menos incomum para um artista jovem. 

Seu despojamento na procura da essência é mais própria de uma amadurecimento cronológico que ela desobedece. E desobedecer é outro lado concreto de seu trabalho. Não a rebeldia infantil. O desobedecimento ao padrão. A carga emocional tropicalista, latina e a farta explode em cores e movimentos que convivem com um equilíbrio zen. É o que lhe dá o hand-cap

Lançando-se a aventura sem medo ela conquista – através do gesto forte do pincel ou da aplicaçãão da bisnaga (sem intermediários) – a certeza, o crédito imediato do talento. Não deixa nenhum dúvida de que estamos frente a um artista que não se perde em pormenores nem verborragias inúteis. Pleno e objetivo.

Já longe do figurativo (sempre esteve) acadêmico, mas se servindo dele, seu trabalho de hoje é sempre centrado por uma figura humana (mais precisamente, um artista, um atleta ou um bailarino. Talvez a evocar sua experiência com dança interrompida por falta de motivação experimental). O equilíbrio cinético determinando o homem centrado em si ou em seus movimentos. Cercado por cores inconstantes mas cuja a harmonia é feita longe do padrão: pela exagerada e destemida impressão do contraste. 

Pensando cada vez mais o artista. Reflexo e reflexão. O homem, o mundo o artista, vistos em realidade.

E com muita PAIXÃO.

(Ary Pararraios)

Terezinha Losada apresenta, com suas pinturas expostas na Galeria B da Fundação Cultural, uma proposição também arrojada da figuração.

…Aliás, os temas dessa exposição dificilmente seriam materializados sem as figuras. Terezinha desenvolveu uma série a que chama de Sala de Espera, na qual as situações armadas impõem a presença de personagens. Ela fala de gente quando a descreve. Gente que se submete a momentos de torturantes expectativas e incômodo, e com isso se divide e até se transporta para outros planos de existência. Mas o corpo fica e o espírito, inevitavelmente se fragmenta. Nesta série os corpos estão mutilados pelo desgaste dessa resistência impulsiva às situações impostas do cotidiano.

Os corpos mutilados surgem também assim na série das Cadeiras, que guarda uma certa intimidade com a Sala de Espera. Os móveis, como objetos funcionais, adquirem personalidade e extrapolam suas funções. Já na série dos Jogos, a astuta radicaliza o caráter fragmentário do ser humano em face de situações impostas. A forte imposição do movimento, também presença importante nas outras séries, não representa a harmonia rítmica documentada nas partidas de futebol, basquete e outros gêneros, onde os fotógrafos perseguem momentos de perfeição.

Terezinha, ao contrário, procura revelar com o movimento, a incoerência e o desencontro do ser humano desprovido de rumos e na sua harmonia a bola é o símbolo da ação. Essa idéia, contudo, fica mais clara noutra série em que a figura é uma bailarina presa a uma caixa de música*. Aqui, o desenvolvimento do tema torna-se mais dramático e propõe uma reflexão de nítidas preocupações existenciais.

No conjunto, essas séries praticamente se fecham num discurso harmonizado e profundamente coerente.

(Ijalmar Nogueira, Jornal de Brasília, 04/05/1982)